domingo, 4 de maio de 2008

feieu

feieu

é feia a cidade feia das pessoas feias
que deixaram pra trás a parte feia
das cidades vermelhas
ligadas numa teia
de dissolução
santas marianas, sãos joões, amoreiras
de erosão sem areia
são feias as pernas marcadas de feridas
da menina que deveria ser bonita
mas, aos dezessete, na terceira gestação
é feia
no sorriso sem um dente
no filho de dois anos que arrasta pela mão
e no nenê de colo que aninha
contra o coração
são feias as pessoas dos futuros reerdados
dos pais escuros sem passados
dos inomes desestóricos plurirotos
são feias as tatuagens mal feitas
e seus nomes num inglês fake inventido
são feios os seus pés de dedos muito apartados
nos sapatos sujos, nos infinitos cadarços
e feia a poeira da rua sem asfalto
que cobre casa, carro, árvore, mato.
e pessoas feias
é feio terminal lotado
o ponto de ônibus lotado
o ônibus lotado
é feio
o praça que não há é feia
a calçada que não há feia
a casa que haveria já é feia
são feios os cachorros sem dono
e seus nãodonos
são feios os carros velhos
as escolas sujas
as igrejas sujas
a vida suja é feia
tão pouca poesia na sujeira
eu termino meu cigarro
e jogo o toco no chão.